sexta-feira, setembro 05, 2008

Cheiros palpáveis

O olfato sempre foi seu sentido mais apurado. Enxerga coisas que não existem, ouve tanto quanto a velhinha surda de “A praça é nossa” e suas digitais meio apagadas mostram que o tato não é seu forte.

É comum ver amigos caminhando em sua direção e, quando eles se aproximam, percebe que são clones. chegou à conclusão que clones andam em bando, cada um parecendo com alguém que ela conhece e prontos para lhe pregar uma peça.

Sua audição também é traiçoeira. Vira e mexe ouve alguém lhe chamando, quando não houve um pio. Mas é alguém realmente gritar por ela, que seu ouvido entope imediatamente. Isso sem falar das conversas absurdas que mantém com as pessoas, que dizem uma coisa, ela entende outra e responde algo sem sentido algum.

As digitais, como foi dito, estão desaparecendo. Recentemente, foi tirar a segunda via para a identidade e se surpreendeu ao ver o prazo de validade do documento: dois anos. Os dedos não estão dando conta de deixar suas marcas vitalícias no RG. Que remédio.

Mas, para ela, isso não passa de bobagem, pois aprendeu a desenvolver um super olfato poderosíssimo. Tem guardados na memória todos os cheiros que apreendeu ao longo da vida.

Chega a sentir falta de alguns.

Do cheiro do pescoço do namorado, das roupas de sua mãe, do armário de seu pai. Do cheiro dos lençóis da casa da avó e do bife acebolado feito pela tia. Do travesseiro onde dormiu por anos e anos, e agora não está mais sob sua cabeça. Do pêlo macio da cachorrinha, recém-saída do banho. Do cheiro do café fresquinho vindo da cozinha, mostrando que um novo dia está começando.

Cheiros a agradam, a inebriam e a põem em contato sensorial com o mundo. Por isso dispensa os outros sentidos.

Se bem que tem o paladar... Bem, ela adora um bom prato de comida. Mas isso não vem ao caso agora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Babe, eu realmente sou muito fã dos seus textos. Não canso de dizer que são cada vez melhores. Onde você vai parar? Por favor, não pára, não pára, não pára não (como diria Tati).

Não te abandonei nem esqueci, tá? Eu apenas tenho estado atarefado demais, você sabe... Mas isso vai melhorar a partir de amanhã.

"Não abra" finalmente está no meu blog! Olha lá.

Beijos do Rio,
Alexandre