domingo, novembro 13, 2011

Tradição, família e propriedade

Casal sentado no sofá de casa após 4 garrafas de cerveja.

Deusilene: Já era, Joilson. Virei reaça.

Joilson: Que foi, Deusi? As cervejas já subiram pro cérebro?

D: Estou aqui pensando... Quando eu tinha 20 anos, eu deitava a cabeça no travesseiro e tinha insônia. Mas tudo bem, porque eu pensava: hoje tá uma merda, mas o melhor ainda vai acontecer. Agora minha insônia é um grande vazio de frustrações, o melhor não aconteceu e talvez nunca aconteça.

J: Falou a velha de 80 anos.

D: Tô quase por aí. Agora só faço julgar. Sou um poço de preconceito. Fico irritada com as periguetes de saia curta, os fãs de UFC, os playboys sarados, os hypes arrogantes, a juventude desmiolada se pegando descaradamente. Eu tinha a cabeça tão aberta...

J: Isso é maturidade, coração. Benvinda à vida adulta.

D: Não, Joilson, isso não pode estar certo. Sempre achei que o ser humano tinha que manter a mente fresca e o espírito livre. Agora caí na armadilha e virei uma velha. Tô quase levantando a bandeira da TFP...

J: Quando eu te conheci você gostava de beijar menininhas na night.

D: Minha night agora é dormir cedo. Aliás, 10 da noite, tá na hora. Buenas.

J: Peraí, Deusi, dá um beijinho aqui.

D: Escovou o dente?

terça-feira, maio 17, 2011

Feliz aniversário

Lutando dia-a-dia para não perder o controle, não perder a cabeça, não perder-se de corpo inteiro. Os pensamentos até já se perderam, mas assombram-lhe como fantasmas e mortos-vivos que sugam sua energia. O tempo passa como bomba-relógio, tique-taque, menos um dia. Menos uma semana. Menos um ano.

quinta-feira, maio 05, 2011

Failure

Olhar para trás, ver o que aconteceu, pensar no que poderia ter sido, sentir o fracasso em que se transformou. Tortura! Por que faz isso? Pensa em melhorar, mas a sementinha do mal é tão mais forte, brota vez ou outra e atrapalha o resto de nascer. Deserto. No momento, o pensamento mais constante é de se dedicar à vida do filho, já que a sua não deu certo. Viver por ele e para ele. Mas um dia ele irá andar com os próprios pés, e você? Vai se apoiar em quê?

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Self bullying

Levou um susto. Com o mundo girando e acontecendo a seu redor, estava há tempos surdo de sua própria voz. Cometeu a besteira de andar sozinho do metrô para casa em um dia de tempestade e não gostou do que ouviu. Sentiu-se o clichê mais óbvio quando chorou e as lágrimas se misturaram na chuva. Claro que os passantes o ignoraram, os cachorros vira-latas não cheiraram seus pés, os entregadores de papelzinho o abstrairam, ninguém sorriu ou sentiu pena dele. Só ele mesmo. Queria olhar-se à distância para ver quão coitadinho era, tão pequenino e sozinho no meio da multidão. Não deveria ter dado ouvidos aos próprios pensamentos, é tão mais fácil quando a vida segue seu rumo e ele é simplesmente levado, confortably numb. Confortably sorry, confortably painful. No fundo desejava ser ignorado, para poder chorar feliz o prazer de ser deixado de lado. Chegava a imaginar conversas alheias: "Olhe lá, o pobrezinho. Teve tudo e não soube aproveitar". Quem sabe não seria um gauche na vida como Carlos Drummond de Andrade? "Não seja ridículo, você não tem talento para isso". Sabe que é doente. Aguarda, ansioso, pelo dia em que ficará curado. Ou então - e essa possibilidade faz seus olhos brilharem - com o fim de seus dias na sarjeta, sujo e anuviado, ouvindo somente suas vozes internas .