domingo, junho 16, 2013

The news is...

I've been thinking
We're good
We can't let our mind or our life say it aint so
We're good, my love
Remember when we were young and everything was possible?
Remember when we were the first in class and everybody wanted to be like us?
Remember when, besides the depression, we thought that someday something good would come?
So, the news is: something good comes from us. We have to do something. Or "something good" will never come.
So, where's the button?
Where do we press to open our windows?
The news is: the button is behind the...

domingo, novembro 25, 2012

The rope


Cansada de encará-la no espelho, amarrei-a na cadeira do quarto e dei três nós bem apertados.

“Isso não vai adiantar, você sabe”, ela disse, rindo ironicamente na minha cara assustada.

Pela primeira vez na vida fui forte e a deixei lá, gargalhando às minhas custas, sussurrando minhas fraquezas com conhecimento de causa, jorrando por seus olhos o poder de me hipnotizar e petrificar.

Mas, não. Pela primeira vez, não me hipnotizei, me livrei das garras, deixei-a sozinha presa naquelas cordas porcamente amarradas com os nós de escoteiro que aprendi com meu pai.

Desci as escadas vermelhas do quarto mofado e pela primeira vez respirei. O peso havia deixado meu peito e me sentia tão leve que era capaz de planar pela praça. Sobrevoando as famílias felizes com suas crianças coradas, os velhinhos orgulhosos de seu passado jogando gamão com seus pares, os saudáveis desintoxicados correndo em volta do parque. Sempre os invejei, todos esses seres extremamente felizes, the grass is always greener, ela me dizia em seus tempos opressores.

Mas, agora, livre, posso ser feliz como eles. Não posso? Sem a consciência pesando 100kg, o medo da opinião alheia, a alegria vinda da ignorância. Porque nada como a ignorância para beatificar uma existência, nada como o nada. Questionamentos não levam a lugar algum.

Estava nua naquela praça ensolarada, sentindo-me pela primeira vez melhor do que a família corada, do que a velhinha da dentadura lustrada, do que a jovenzinha de bunda empinada. Eu era melhor, pela primeira vez despida da outra, da louca presa na corda com três nós porcamente amarrados. Ela poderia facilmente se soltar, desceria as escadas vermelhas com furor e me possuiria com o ódio vingativo dos traídos.

Pois eu nunca a deveria tê-la amarrado, ela que nasceu comigo e comigo cresceu, que mostrou suas garras desde aquele recreio no colégio quando a menina quis lanchar  comigo e eu disse: ‘quero ficar sozinha’. Como pode, eu era tão pequena e já queria o vazio, já queria a solidão masoquista. Era ela, naquele momento, mostrando suas então pequenas garras, que me aprisionariam por toda a vida.

E agora eu estava livre. Estava?
Estava feliz por estar livre. Estava?

Após um dia de pseudolucidez, subi as escadas vermelhas, entrei no cômodo mofado e ela estava lá, com o olhar triufante, já sabia desde o início que eu iria voltar.

“Me desamarra, vadia”.

quinta-feira, março 22, 2012

"Cause heaven's hard, black and grey..."

Não conseguia chorar. Não porque não sofresse ou não sentisse dor. Mas as lágrimas não brotavam, era algo fisiológico, talvez. Seu namorado não se conformava. No começo ele achava graça daquela menina que nunca derramava uma lágrima, mas depois virou uma obsessão. Queria que ela chorasse de qualquer maneira. “Não chora porque é seca, seca de amor”, dizia ele. Primeiro tentou surpreendê-la com cartas de amor desarvoradas, aquela coisa de “dou minha vida por ti” e outras bregarias. Ela se emocionou – pelo menos disse que sim -, abraçou-o, beijou-o, mas não chorou. O namorado mudou a tática e decidiu mostrar toda sua agressividade macha: brigava com ela à toa, ignorava-a, maltratava-a. Nem uma gota rolou daqueles olhos ingratos. No desespero começou a fazer-se de deprimido, disse que ia se matar. Chegou a pensar em fingir-se de morto para ver o que acontecia. E se morresse de fato, será que ela choraria? Arrasado, foi para casa decidido a não mais vê-la. A moça, vendo o que sua anomalia estava causando no pobre rapaz, resolveu tomar uma atitude drástica. Foi para a cozinha, muniu-se de um quilo de cebolas e pôs-se a cortar. Picadinhas, bem pequeninhas, as cebolas liberaram as toxinas que ela precisava. Dos seus olhos brotaram jatos d’água, como se o choro de toda uma vida se desprendesse de seu corpo. Correu para o computador. Ligou a câmera, colocou a música preferida do casal, e fez um vídeo, debulhando-se loucamente. O namorado, ao vê-la naquele estado, ficou tão feliz que correu para encontrá-la. Mas não suportou 15 dias de chororô ininterrupto e deu no pé na primeira oportunidade. Até hoje ela não conseguiu parar.

domingo, novembro 13, 2011

Tradição, família e propriedade

Casal sentado no sofá de casa após 4 garrafas de cerveja.

Deusilene: Já era, Joilson. Virei reaça.

Joilson: Que foi, Deusi? As cervejas já subiram pro cérebro?

D: Estou aqui pensando... Quando eu tinha 20 anos, eu deitava a cabeça no travesseiro e tinha insônia. Mas tudo bem, porque eu pensava: hoje tá uma merda, mas o melhor ainda vai acontecer. Agora minha insônia é um grande vazio de frustrações, o melhor não aconteceu e talvez nunca aconteça.

J: Falou a velha de 80 anos.

D: Tô quase por aí. Agora só faço julgar. Sou um poço de preconceito. Fico irritada com as periguetes de saia curta, os fãs de UFC, os playboys sarados, os hypes arrogantes, a juventude desmiolada se pegando descaradamente. Eu tinha a cabeça tão aberta...

J: Isso é maturidade, coração. Benvinda à vida adulta.

D: Não, Joilson, isso não pode estar certo. Sempre achei que o ser humano tinha que manter a mente fresca e o espírito livre. Agora caí na armadilha e virei uma velha. Tô quase levantando a bandeira da TFP...

J: Quando eu te conheci você gostava de beijar menininhas na night.

D: Minha night agora é dormir cedo. Aliás, 10 da noite, tá na hora. Buenas.

J: Peraí, Deusi, dá um beijinho aqui.

D: Escovou o dente?

terça-feira, maio 17, 2011

Feliz aniversário

Lutando dia-a-dia para não perder o controle, não perder a cabeça, não perder-se de corpo inteiro. Os pensamentos até já se perderam, mas assombram-lhe como fantasmas e mortos-vivos que sugam sua energia. O tempo passa como bomba-relógio, tique-taque, menos um dia. Menos uma semana. Menos um ano.

quinta-feira, maio 05, 2011

Failure

Olhar para trás, ver o que aconteceu, pensar no que poderia ter sido, sentir o fracasso em que se transformou. Tortura! Por que faz isso? Pensa em melhorar, mas a sementinha do mal é tão mais forte, brota vez ou outra e atrapalha o resto de nascer. Deserto. No momento, o pensamento mais constante é de se dedicar à vida do filho, já que a sua não deu certo. Viver por ele e para ele. Mas um dia ele irá andar com os próprios pés, e você? Vai se apoiar em quê?

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Self bullying

Levou um susto. Com o mundo girando e acontecendo a seu redor, estava há tempos surdo de sua própria voz. Cometeu a besteira de andar sozinho do metrô para casa em um dia de tempestade e não gostou do que ouviu. Sentiu-se o clichê mais óbvio quando chorou e as lágrimas se misturaram na chuva. Claro que os passantes o ignoraram, os cachorros vira-latas não cheiraram seus pés, os entregadores de papelzinho o abstrairam, ninguém sorriu ou sentiu pena dele. Só ele mesmo. Queria olhar-se à distância para ver quão coitadinho era, tão pequenino e sozinho no meio da multidão. Não deveria ter dado ouvidos aos próprios pensamentos, é tão mais fácil quando a vida segue seu rumo e ele é simplesmente levado, confortably numb. Confortably sorry, confortably painful. No fundo desejava ser ignorado, para poder chorar feliz o prazer de ser deixado de lado. Chegava a imaginar conversas alheias: "Olhe lá, o pobrezinho. Teve tudo e não soube aproveitar". Quem sabe não seria um gauche na vida como Carlos Drummond de Andrade? "Não seja ridículo, você não tem talento para isso". Sabe que é doente. Aguarda, ansioso, pelo dia em que ficará curado. Ou então - e essa possibilidade faz seus olhos brilharem - com o fim de seus dias na sarjeta, sujo e anuviado, ouvindo somente suas vozes internas .