Esfomeado de marca maior, T. cresceu acreditando que conseguiria aplacar o vazio de sua alma com comida. Acordava e dormia pensando em comer. Sentia dor e comia. Gozava e comia. Qualquer sentimento, bom ou ruim, que perpassasse seu ser era imediatamente seguido de comida.
Como acontece com todos os seres humanos, a carência da alma foi crescendo em T., com o passar do tempo. Resolveu aventurar-se pelo mundo em busca de novos sabores que o preenchessem. Passou por países diversos, continentes e ilhas perdidas no nada. Realizava o ritual de comer 24 horas sem parar tudo o que o lugar tinha para oferecer. Mas toda a comilança era tão inútil como a maioria das sessões de análise por que passou. T. começou a descer fundo em sua jornada ao inferno.
Doente, carente, anti-social, T. cresceu em angústia e volume. Nos lugares por onde passava, era chamado de Big T. Todos zombavam de sua figura decrépita. Um sentimento de ódio ao mundo fez nascer nele o desejo por sangue. Mais precisamente, carne. Em uma discussão com um inglês mau-caráter, perdeu o controle e devorou-o por completo. Foi a glória de Big T., que finalmente sentiu preenchido parte do seu vazio impreenchível.
Voltou a rodar mundo, com o atropofagicanibalismo pulsando em seus dentes enormes e tortos. Imbuído do desejo de comer e ao mesmo tempo salvar o mundo da peste humana, passou a traçar todos os que julgava ignorantes. Ricos e egoístas? T. devorava. Assassinos de crianças? T. estraçalhava. Mentirosos, larápios, mendigos? Big T. não perdoava. A escória da humanidade estava sendo varrida do mapa pelo apetite voraz de um louco.
Quem ousava reclamar? Big T. era um freak, todos o temiam, mas estava fazendo um grande bem à raça. Era só não deixá-lo sair do controle. Um dia, porém, T. acordou de ovo virado. Abriu sua enorme boca em direção ao mundo e...
segunda-feira, novembro 17, 2008
domingo, novembro 02, 2008
No future, no future
Presa na torre de silêncio ensurdecedor, tal qual uma Rapunzel descabelada, ela guarda dentro de si o ódio e a angústia. As paredes de onde vive são de papel, a arte é ridicularizada, os livros são de auto-ajuda e o humor, sarcástico. Insuportáveis conversas a forçam sorrir amarelo, bons dias, boas tardes e boas noites falsamente amáveis escondem o desejo pelo grito. Libertem-se! Movam-se! Desburocratizem-se! Na torre de silêncio a vida é chata e inútil, o tempo é fardo, a regra é lei, o marginal, proibido. Rapunzel tenta, por vezes, jogar as tranças pela janela, mas os cabelos quebradiços não sustentam nem o peso de si mesmos. Olhar para o horizonte? Jamais. A paisagem futurista-retrô-sufocante faz as paredes de papel não parecerem tão ruins assim.
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