quinta-feira, novembro 11, 2010

O Japonês de Terno Puído ataca novamente

Após o episódio da perseguição na Avenida Paulista, o Japonês de Terno Puído frequentou seus mais terríves pesadelos por alguns meses. Aos poucos foi se dissolvendo e virou um borrão em sua memória, sendo até substituído por outros loucos da região.

Mas, eis que um dia, caminhando na galeria entre a Brigadeiro e a Manoel da Nóbega, o homem se materializou em sua frente. O mesmo terno, o mesmo cabelo crespo (nunca ouviu falar de japonês de cabelo ruim. Ah, sim. O Jaspion) e o mesmo guarda-chuva-suspeito-suposta-arma-letal com que ele a ameaçara tempos atrás. Desta vez, o Japonês de Terno Puído foi ousado e dirigiu-lhe a palavra.

“Você passa aqui todo dia, né?”, disse, com um sotaque impossível de transcrever. Ela gelou. Estaria ele a perseguindo durante todo esse tempo? Ela baixou a cabeça e seguiu em frente, mas o homem acelerou os passinhos, quase como uma gueixa, e a alcançou. “Vem almoçar comigo, né? Você gosta daquele restaurante ali, né?”. E apontou para o local onde ela almoçava quase diariamente. “Por que você está me seguindo? Quem é você?”, ela perguntou, finalmente.

O Japonês empombou-se todo e fez uma reverência abaixando o tronco para frente. “Meu nome é Ishii Kondo e trabalho em uma empresa que estuda as pessoas, né? Você é minha... meu objeto de estudo, né?”.

Ora essa, objeto de estudo? “Eu vou chamar a polícia”, disse ela.

“Calma, moça amarela não precisa se assustar”.

“Que amarela? Você é o japonês aqui, ô”.

Ela começou a olhar para os lados, pronta para gritar caso ele lhe direcionasse o guarda-chuva letal.

“Moça do cabelo amarelo deve saber que eu estou aqui em missão de paz. Vim de muito longe para estudar você, né? Meu mestre me mandou aqui. Ele gostou muito da pesquisa que entreguei, foram 500 páginas. Não, 503 páginas sobre a moça amarela. Muito satisfeito, o mestre.”

A história ficava cada vez mais estranha. A moça amarela, digo, ela, tinha medo, mas também estava muito curiosa para saber quem era o tal mestre e por que diabos ele mandou o Japonês de Terno Puído persegui-la.

Aceitou o convite do seu perseguidor e foi comer um rolinho primavera no restaurante em frente. Um olho no guarda-chuva do japonês de cabelo duro. Outro no hashi em cima da mesa. Se fosse preciso, ela enfiaria o pauzinho naquele olho puxado.

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