Levou um susto. Com o mundo girando e acontecendo a seu redor, estava há tempos surdo de sua própria voz. Cometeu a besteira de andar sozinho do metrô para casa em um dia de tempestade e não gostou do que ouviu. Sentiu-se o clichê mais óbvio quando chorou e as lágrimas se misturaram na chuva. Claro que os passantes o ignoraram, os cachorros vira-latas não cheiraram seus pés, os entregadores de papelzinho o abstrairam, ninguém sorriu ou sentiu pena dele. Só ele mesmo. Queria olhar-se à distância para ver quão coitadinho era, tão pequenino e sozinho no meio da multidão. Não deveria ter dado ouvidos aos próprios pensamentos, é tão mais fácil quando a vida segue seu rumo e ele é simplesmente levado, confortably numb. Confortably sorry, confortably painful. No fundo desejava ser ignorado, para poder chorar feliz o prazer de ser deixado de lado. Chegava a imaginar conversas alheias: "Olhe lá, o pobrezinho. Teve tudo e não soube aproveitar". Quem sabe não seria um gauche na vida como Carlos Drummond de Andrade? "Não seja ridículo, você não tem talento para isso". Sabe que é doente. Aguarda, ansioso, pelo dia em que ficará curado. Ou então - e essa possibilidade faz seus olhos brilharem - com o fim de seus dias na sarjeta, sujo e anuviado, ouvindo somente suas vozes internas .
segunda-feira, fevereiro 21, 2011
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