Pode-se dizer que o maior problema de D. é a culpa. Ela carrega um peso enorme nas costas, por isso a postura curvada. São culpas de todos os tipos, individuais e coletivas, brandas e pesadas, certas e duvidosas. Culpas que ela não sabe nem se deveria sentir, mas sente. É um problema crônico.
Culpa-se por ter nascido na hora errada. Ou por se esconder quando o mundo pede que todos se mostrem. Não se acha uma boa filha, uma boa irmã. Muito menos, boa amiga ou namorada. Estas são as individuais. Ainda tem as coletivas...
D. abre os jornais e não resiste às tragédias do mundo. Culpa-se pelos acidentes que matam milhares todos os dias, pela pobreza e indignidade que se alastram, pelos bebês e crianças de vida curta, pelos animais que sofrem nas mãos de carrascos. Todos eles parecem dizer a ela: “Aproveite a vida enquanto é tempo, D.! Pare de chorar!”. Mas D. chora demais. E quanto mais chora, mais se culpa. E quanto mais se culpa, mais lágrimas rolam, num ciclo vicioso que a faz pôr em dúvida a razão de sua existência.
Às vezes, tem ímpetos de sair da inércia e salvar o mundo, colocar todos sob seus cuidados. Outras, prefere fugir sozinha para o meio do nada, longe dos homens cínicos, aninhando-se na pureza dos animais, que nunca lhe fizeram mal.
Mas D. escolhe a inércia. Escolhe o namorado sádico, que lhe bate todas as noites. A cada tapa desferido por G., D. vibra, pois sente-se punida por tudo o que deveria fazer e não fez.
sexta-feira, agosto 31, 2007
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Um comentário:
A-d-o-r-e-i!
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