sábado, dezembro 01, 2007

J.

J. espreme, espreme, e nada. Que raiva, ele pensa. Eu sinto que tem algo, se dói, é porque tem. Continua apertando, tenta de um lado, do outro. Devagar e rápido. Não sai nada. Toda vez é assim. J. percebe que ali embaixo tem coisa, mas sente sempre nas piores horas. No ônibus, na cama ao deitar, no restaurante e enquanto conversa com alguém. Aquilo lateja, parece que vai explodir, livrando-o de vez da dor maldita. No entanto, se conscientemente J. se presta a espremer, só o que sente é o sangue escorrendo. Mistura de fluidos, vermelho-derrota e transparente-vazio. Talvez espremer não seja o certo, talvez uma lâmina resolva, arranco tudo de uma vez e espirro em cima de todo mundo, para provar que tem coisa aí dentro sim, eu sei que tem. J. pragueja demais. E a lâmina continua intacta na gaveta. No fim das contas, ele prefere colocar uma compressa quente, deixando tudo se esvair na corrente sanguínea.

2 comentários:

Tamba disse...

eu tenho medo de vc

Anônimo disse...

Que loucura louca e boa!