quinta-feira, junho 12, 2008

Quero ser Grace Kelly e Audrey Hepburn!

Adorável é palavra antiga, pouco utilizada hoje em dia, mas que, no passado, foi o adjetivo mais empregado para as mulheres bonitas e surpreendentes. Aquelas que possuíam uma graça especial, um quê de brilhante que fazia os homens se sentirem tolos. As adoráveis de ontem podem ser as “fofas” de hoje. E no hall de fofas do cinema certamente estão Grace Kelly e Audrey Hepburn. Assistindo a “Janela Indiscreta” (Alfred Hitchcock) e “Bonequinha de Luxo” (Blake Edwards), é impossível não querer ser Lisa Fremont e Holly Golightly. No caso de Grace, é quase inacreditável a indecisão do personagem de James Stewart quando aquela mulher praticamente o pede em casamento. Jeff prefere sair pelo mundo a fotografar quando a obra de arte mais perfeita está bem na sua frente! Além de linda de morrer, Lisa se dá ao luxo de ser espirituosa, sagaz, dona de um inglês irrepreensível e rica! Quando o amado está temporariamente inválido numa cadeira de rodas, ela leva o restaurante mais chique da cidade até o minguado apartamento de Jeff. E mergulha de cabeça na obsessão do fotógrafo, que por conta de sua imobilidade, passa noite e dia observando os vizinhos, captando então alguns indícios de assassinato. Lisa não deixa um bilhete anônimo na casa do suposto assassino, como invade seu apartamento altas horas da noite para conseguir pistas! Acaba na cadeia, a pobre, mas mesmo liberta, volta cheia de sorrisos para seu amor. Surpreendente, não? Peraí, meus queridos! Eu quero uma versão masculina de Miss Fremont!

Audrey Hepburn é um pouco mais mundana como Miss Golightly. Sente-se plena somente quando perambula pela loja de jóias Tiffany’s, um lugar, onde, segundo ela, nada de mau pode lhe acontecer. Algo como "Nãolugar como o nosso lar" da Dorothy de “O Mágico de Oz”. Mas mesmo um poço de futilidade, mesmo sendo o retrato da patricinha golpista dos anos 60, Audrey encanta. É faceira, natural, tem neologismos deliciosos e bebe leite como ninguém numa taça de champanhe. Adora um drink, aliás (mulher que bebe é sempre mais interessante, com algumas exceções, óbvio), e toma porres que não condizem com sua aparência frágil e esquálida. Resumindo: surpreendente. O problema é que Golightly foge do mundo para fugir de si mesma, até quando encontra o amor de sua vida, Paul Varjak (o lindo George Peppard), que cisma em chamar de Fred, pois ele lembra seu irmão militar. Nesse ponto a Grace Kelly do mestre do suspense é mais bem-resolvida: sabe o que quer, é decidida. Sabe que tem o mundo aos seus pés e o que vai escolher da prateleira da vida.

Diferenças à parte, o que importa é que, para o deleite do público, ambas as heroínas tiveram finais felizes e de acordo com a persona de cada uma: para a doce e tempestuosa Hepburn, a chuva banhada pela belíssima e romântica “Moon River”, de Henry Mancini; para a moderna e criativa Grace, o jazz de Franz Waxman. E ao subir dos créditos derradeiros, eu não me envergonho nem um pouco de assumir: quero ser Grace Kelly e Audrey Hepburn!

* texto de 2004, publicado no meu finado blog Movieola

**Estou de férias, de malas prontas para a Patagônia. Volto dia 30 com novidades...

quarta-feira, junho 04, 2008

Devaneios de Humbert Humbert


Primoroso na fotografia, na escolha das cenas e dos atores, “Lolita” de Stanley Kubrick (1962), foi injustiçado nas severas críticas à estreante Sue Lyon, que para muitos, não conseguiu emanar a sensualidade digna de uma Lolita. O excesso de humor empregado por Peter Sellers também não transformou as cenas de Quilty em um pastelão incoerente com o texto de Nabokov, como se falou na época. O pecado de Kubrick, se é que se pode chamar uma escolha artística assim, é apenas um: não mostrar os devaneios da mente insana de Humbert Humbert. Afinal, o intelectual pedófilo foi trilhando, desde sua chegada à cidade de New Hamsdale, um caminho tortuoso até a total insanidade. Desde que se deparou com aquela menina de 12 anos tomando sol no jardim com seus óculos em forma de coração, a mente daquele homem modificou-se por completo. Humbert tornou-se obcecado por Lolita e fez de tudo para tê-la: casou-se com a mãe da garota, planejou a morte da mulher, que acabou acontecendo acidentalmente e depois se apossou da ninfeta de forma tirânica. Como um inspetor severo de um colégio religioso, impediu-a de ter namorados, impunha-lhe horários e perseguia-a às escondidas. Lolita o traía com outros homens? Conseguia aquela criança enganá-lo apesar de todo o controle? Humbert entra em paranóia.

No livro, Nabokov deixa em aberto, ao longo das páginas, se a desconfiança do protagonista é real ou fruto de sua produtiva imaginação. E é aí que Kubrick poderia explorar em grande estilo. Esmiuçar o suspense e o mistério da forma que fez em “De olhos bem fechados”, intercalar imagens fantásticas como em “2001 – Uma odisséia no espaço”, abusar da imperiosidade musical para pontuar as situações mais bizarras, como em “Laranja Mecânica”. Dar um toque David Lynch às insanidades de Humbert (que me perdoem os anti-Lynchanos...), que cisma com a perseguição de Quilty, vendo-o em todos os lugares; que vê em cada rosto masculino uma ameaça a sua querida Lo. Humbert vê coisas, sente-se encurralado. Prato cheio para cenas a la “Cidade dos sonhos” e “Coração Selvagem”.

Mas esta opção do cineasta obviamente não diminui a importância da obra, nem sua beleza, nem seu lirismo cínico. O cineasta escolheu perfeitamente as cenas que deveria adaptar do livro para a película, inclusive a decisão de colocar na primeira cena a morte de Quilty e a partir daí a volta no tempo. O devaneio humbertiano é apenas uma sugestão que eu sopraria ao pé do ouvido de Kubrick no momento primeiro da criação das cenas. Como um anjinho demoníaco pedindo algo mais marginal. Como uma Lolita.
* texto de 2004 publicado no meu finado blog Movieola

segunda-feira, junho 02, 2008

Bobagens de segunda

De volta ao maravilhoso mundo das kombis, lugar que me dá tanta alegria (???) e sempre histórias pitorescas para contar. A de hoje aconteceu semana passada. Sentou do meu lado um rapaz de uns 20 anos, mais ou menos. Segurava uma certidão de nascimento novinha em folha. Era do filho dele. O nome do bebê: Kayck. Tive pena do pobrezinho, tão pequeno e com um nome tão cafona. Revirando os olhos um pouco mais, consegui ler o nome dos pais de criança: Gilliard e Ruanny. Deus meu! Agora compreende-se porque eles quiseram deixar esse legado para o filho. É uma tradição familiar. Comprovei a teoria ao ver como se chamavam os avós paternos: Gilmar e Gilvanice. Uma dupla sertaneja, provavelmente.

Fiquei rindo sozinha pensando nas festas de aniversário dessa família. Imaginem na hora do rá-tim-bum: Ruuu-âaa-niii! Ou então: Gili-ár-diiii! Mas a campeã com certeza é a vovó: Gil-va-ni-ciiiii! Meu sonho ir no aniversário de Gilvanice. Deve ser incrível gritar o nome dela bem alto e em separação de sílabas!

Ok, podem dizer. Vou pro inferno.