quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Mundo estranho

Já pararam pra pensar como é estranho essa coisa de ingerir alimentos? Quase tão estranho como expeli-los depois de algumas horas. Comer, assim como ir ao banheiro, é algo íntimo demais. Deveria estar restrito a cabines fechadas, isoladas do resto do mundo, como são os banheiros. Apesar de não ter problemas para comer em público, às vezes me pego pensando em como é estranho ir a restaurantes. Nele você expõe suas vergonhas levando o garfo à boca, mastigando a comida, escancarando para todos os dentes de alface, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Pior ainda quando algum desconhecido se senta à mesma mesa que você. Mastiga, mastiga, mastiga, engole. Constrangedor. E quando você cisma de reparar no prato dos outros, a coisa complica. Ainda mais se forem paulistas, que adoram colocar um salgadinho no meio da comida. Arroz, feijão, salada, bife e... risole. Ah, risole é demais. Eles gostam de coxinha também. Estranho.

Se vocês já estão me achando freak por pensar assim, tenho mais a dizer: também acho estranho dormir em público. Em quase dois anos dormindo em leitos na Dutra, percebi que dormir também é algo íntimo demais para ser feito de forma coletiva. Nos ônibus, então, é angustiante. Todos se sentam em suas poltronas, tiram os sapatos, colocam os pés pra cima - eca! - e dali a cinco minutos estão roncando. Ron-can-do! Constrangedor. No dia seguinte, ao chegar ao destino, o ônibus parece uma saleta do inferno. Gente acordando de cara amassada, com bafo de bode, baba no canto de boca e jeito lesado de quem não sabe onde está. O horror, o horror...

9 comentários:

Tamba disse...

hahahahaha
da comida não acho tanto, mas o dormir é fato.

Thiago Lasco disse...

Maitê: sempre ensinando os seus leitores a ver com intranqüilidade o que até então era normal e inofensivo :)

Anônimo disse...

Acho que devemos criar banheiros públicos mais modernos em que possamos expor novas vergonhas e fica tudo por isso mesmo :)

Anônimo disse...

Babi, concordo com o Tamba, comer, nem tanto, mas dormir, não consigo fazer em público.

Sobre isso, recomendo a todos o filme do Buñuel, O Fantasma da Liberdade. Numa das cenas, pessoas se sentam à mesa, mas não para comer e sim para... Bem, as cadeiras não existem. São privadas. Adivinha onde eles comem, morrendo de vergonha e com a maior pressa? Num compartimento reservado igual a um banheiro, trancafiados, como se tivessem fazendo algo proibido. Genial! Lição de antropologia ou sociologia - sei lá - num filme que ainda conta com outras cenas surreis geniais, bem ao gosto da nossa autora genial desse blog.

Muitos beijos,
Poppins

Anônimo disse...

Digo: "cenas surreAis".

Anônimo disse...

Que vertido...
E eu não sei como alguém consegue urinar na rua, na calçada movimentada, os carros passando e todo mundo sem ter como evitar visão tão íntima.
Bjs,
Alex

Anônimo disse...

Dormi no ônibus não é nada, e quem dorme no banco da praça?

Anônimo disse...

Eu já acho que a gente devia fazer tudo em público. Inclusive sexo.
Todo mundo faz mesmo. Qual o problema?

Anônimo disse...

Concordo com o Leco. Mas há de se questionar: assim não perderíamos o prazer do proibido, do reservado? ou ainda o prazer de espiar e ser espiado? se fosse tudo normal, não se existiria o prazer de se quebrar as regras...