Sentou-se na mesa de bar sozinha.
“Dois chopes”.
“Sim, senhora. Os dois agora?”, estranhou o garçom.
“Sim”.
Minutos depois ele colocava dois cremosos lourinhos em sua mesa.
“Brinda comigo?”, pediu ela.
“Dona, estou trabalhando. Não posso beber”.
“Só um brinde. Não precisa beber. É que dá azar beber sem brindar”.
O garçom olhou para os lados. O chefe, Seu Gumercindo, não estava por perto.
“Tim-Tim”. Ambos bateram as tulipas.
“Toma um golinho”.
“Senhora, eu preciso atender outras mesas...”
“O bar está praticamente vazio. Tem mais garçom que cliente”.
“Mesmo assim. Pega mal. Não posso beber em serviço”.
“Me sinto tão só...”, ela suplicou. Olhou o crachá do homem. “Bebe um golinho, Ulisses. Por mim, vai”.
O garçom respirou fundo. Sabia que não podia. Mas a moça era bonita...
“Viu? Um golinho só. Ninguém sabe, ninguém viu”, disse ela, vendo Ulisses limpar o bigode de espuma em cima do lábio.
Seu Gumercindo apareceu no balcão. Ulisses se aprumou.
“Ok, senhora. Qualquer coisa, pode me chamar. Vou continuar meu serviço”.
Ela seguiu bebendo sozinha. Viu Ulisses entrar e sair da cozinha. Ele não tinha o que fazer.
“Ei! Por favor!”, chamou ela. “Uma porção de batata-frita”, pediu, quando Ulisses se aproximou.
Minutos depois, chegou a porção. Quentinha, crocante.
“Prova, Ulisses. E toma outro gole”.
“Dona... A senhora vai me complicar”.
Ulisses colocou três batatas na boca de uma só vez. Um gole rápido de chope ajudou a maçaroca a descer.
“Não vai perguntar meu nome? Eu digo ‘Ulisses’ e você responde ‘Dona’?”
“Qual a sua graça?”. Ele a olhava com interesse.
“Odineide. Mas pode me chamar de Dina”.
“Dina eu gosto. Combina com... piscina”. Ulisses era mesmo sem jeito.
“E também com morfina, cartolina, anilina... Senta um pouco comigo.”
Dina sabia que Ulisses não podia. Mas ele a surpreendeu com um convite.
“Já deu minha hora, vou bater o cartão. Eu não posso beber aqui, mas... A senhora não quer ir lá na outra esquina, Dina?”. Ele riu com a própria rima involuntária.
“Está bem”, disse a moça, bebendo o resto do chope.
Minutos depois ele saiu, perfumado e sem uniforme de garçom.
Vendo-os descer a rua de mãos dadas, Seu Gumercindo sorriu.
“Há 20 anos eles fazem a mesma coisa. E Ulisses nunca percebeu que eu sei que ele bebe”.
“E o senhor não faz nada por quê?”, perguntou um garçom.
“Porque ele só bebe com a Dina. E são sempre dois goles. Um amor bonito desses... Pra que interromper?”.
5 comentários:
envolve, doce...boa, muita boa história. bjs
Lindo, lindo, lindo! Sou seu fã, babe.
Caraca... vem meio decadente e triste no começo e vai abrindo o sol no final... Arrebentou.
nao conhecia teu blog. show de bola. vc escreve muito bem. parabens! ta no meu bookmark agora...
eu não conhecia teu blog. adorei.
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