Cecília estava sozinha em casa quando ligou o rádio. O silêncio sempre a incomodou tanto que nunca se permitiu ficar segundos em suspenso. Seu medo era ouvir os próprios pensamentos, nem sempre agradáveis, muitas vezes acusatórios. Apertou o botão esperando que tocasse qualquer coisa, qualquer som, não interessava qual. Interessava que a música tocasse e a tirasse de seu mundo interior. Mas o aparelhinho, traiçoeiro, quis que Cecília ouvisse uma voz muito mais intrigante que a sua própria. O rádio tocou Nico. “Femme Fatale”. Nico e Velvet. Sombria, sexy, atormentada. Here she comes, you better watch your step/She’s going to break your heart in two, it’s true… Cecília sentiu Nico pegando seu coração com as mãos e apertando, como quem dissesse: “Você não pode escapar de sentir, minha cara. Não pode viver impunemente sem silêncio”. Cecília forçou a respiração, conseguiu escapar das mãos de Nico. Mas a voz… Cause everybody knows (she’s a femme fatale)/The things she does to please (she’s a femme fatale)/ She’s just a little tease (she’s a femme fatale)/See the way she walks/Hear the way she talks… Quanta dor aquela mulher carregava na voz, e Cecília só conseguia pensar que devia parar de fugir. Não tinha mais idade para alienar-se. Just look into her false colored eyes... Os olhos de Cecília arregalados, momento de epifania. Era alívio, era luz no fim do túnel, o recado de Nico era simplesmente “Pare de fugir”. Desligou o rádio e finalmente ouviu.
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segunda-feira, março 23, 2009
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