Quando estava de mau humor, G. fazia pouco do resto da humanidade. Podia estar dentro de um ônibus, tão apertado e espremido quanto os outros passageiros, mas olhava com desprezo para os que liam. “Esse povo só lê Bíblia ou livro de auto-ajuda”. Se estava sozinho num banco, torcia o nariz se alguém sentasse ao seu lado. “Tanto lugar vazio...”. Pior ainda se puxassem assunto. Geralmente eram velhinhas carentes ou moças simpáticas com cara de manicure. “Não quero ser seu amigo, idiota”, rosnava, em pensamento.
Andar na rua também o irritava. Transeuntes que esbarravam, gente que andava devagar, gente que andava rápido. Mas o pior para G. era quem andasse ao seu lado. Na mesma linha, quase combinando os passos. Um comichão lhe tomava conta do corpo e ele apressava ou atrasava a caminhada, para se distanciar do companheiro desconhecido.
Fila do caixa eletrônico. Outro problema para ele. Sempre tinha um que errava a senha ou outro que levava mil contas para pagar de uma só vez. Horas de espera. “Malditos”.
Assim era G. de mau humor. E olha que isso era comum. Mas o curioso de tudo isso é que ninguém, nunca, percebeu isso. G. era popular, rodeado de amigos. Doce, alegre, simpático. Incrivelmente ... Bem-humorado. Figura complexa, esse G.
Só quem sabia do mau humor de G. era a namorada, D. A coitada apanhava dia sim, dia não. Como se G. descontasse seu desprezo e ojeriza pelo mundo em belos e bem dados tapas na moça. Bem, eles estão juntos há alguns anos. D. deve gostar.
Mas isso já é outra história.
domingo, agosto 12, 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Me identifiquei totalmente com G. Só não sou popular nem tô batendo em ninguém. Ainda.
Ela gosta. Ou tem um medo patológico de ficar sozinha. Ou teme fobia de mudança.
Corrigindo: Ou TEM fobia de mudança.
Postar um comentário