segunda-feira, setembro 08, 2008

Era uma vez no Cine Cafofo

De repente Melissa estava ali, sentada no banco da frente do táxi, com o motorista apertando-lhe as pernas. Começava a sair de um intenso estado de inebriedade, que teve início horas antes, em uma festa mofada de Laranjeiras.

Festa mofada sim, num buraco quente qualquer atrás de um hortifruti, conhecido como Cine Cafofo. A sessão era de “Era uma vez na América”, mas só conseguiu ver a primeira hora do filme. Logo tinha saltado para o bar, estava numa noite especialmente abusada. Facinha, facinha.

Sempre fantasiou que iria fazer sexo por dinheiro, pelo menos uma vez, para experimentar. Mas Melissa não tinha coragem, e nunca cobrava depois das noitadas. Nem que o desempenho do homem tenha sido péssimo e ela merecesse uma recompensa pelos não-orgasmos e pela ausência de carinho. Era a típica puta grátis.

Mas, sentada ali no balcão, Sergio Leone de fundo, Melissa tomou sozinha as primeiras doses de whisky. Entre goles profundos, tentava imitar aquelas atrizes decrépitas do cinema nacional, que bebem álcool com uma desenvoltura de quinta, deliciosamente na lama.

“Tá machucada, gata?”, perguntou um cara. Pergunta errada, meu bem. Sim, ela tinha caído do céu, mas não era idiota, disse Melissa com os olhos, tão claramente que o homem nem insistiu. Meia hora passou e um bonitão sentou ao lado dela. Nem lembra muito bem a cantada que ele adotou. Mas, dane-se, era bonito, e isso que importava.

Quando deu por si, Melissa estava no banheiro com o rapaz, o copo de whisky em uma das mãos, o cigarro na outra e as pernas abertas. Na hora pensou em cobrar, “são 50 pratas”, mas não o fez. Com a cabeça mergulhada em Melissa, o bonitão não parecia assim tão bonito.

O whisky deve ter-lhe subido à cabeça, porque não se lembra de como saiu do banheiro. Estava novamente sentada no bar do Cine Cafofo, Sergio Leone já era uma vez faz tempo e a festa havia definitivamente começado. Percebeu-se conversando com um grupo de pseudões, “ah, o Godard”, “ah, o Kusturica”. Não, queridos, poupem-me, disse Melissa. Ou será que ela só pensou? O whisky não deixou seus neurônios se comunicarem. Ela queria mesmo era pornochanchada.

Quando o mofo havia preenchido totalmente suas narinas, Melissa resolveu que era a hora de terminar a noite. Com alguém, talvez? Saiu do Cafofo, foi para a rua. Acenou para um táxi, 090 era seu prefixo.

De repente Melissa estava ali, sentada no banco da frente do táxi, com o 090 em ponto de bala. Ele tentava entrar em um motel, mas ela despertou do famigerado estado de inebriedade, que teve início horas antes, em uma festa mofada de Laranjeiras. 090 não era o Robert de Niro, nem ela a Jodie Foster em início de carreira.

“Me leva pra casa”, disse ela, que não cobrou as 50 pratas do taxista. Pelo contrário, ainda pagou a corrida, tão ansiosa que estava para desaparecer dali.

2 comentários:

Mariana Valle disse...

muito bom, baby, pra variar.
Bjs,
Mari

Anônimo disse...

Parece uma versão feminina de bukowski.