Seu Ananias desceu as escadas lépido como um coelho. “Nunca me senti tão bem. Meu filho, me traz aqueles pesos que eu tô querendo ficar forte hoje”. Alberto estranhou o vigor do pai, minutos atrás estava prostrado no sofá vendo Discovery Channel. “You and me, baby, we’re nothing but mammals, so let’s do it like they do on the Discovery Channel”. “Pai, o que é isso??”. Seu Ananias estava cantando e rodopiando no meio da sala. Alberto se assustou e foi ter com a mãe na cozinha. Algo estranho estava acontecendo com seu pai. “Filhinho, me ajuda aqui. Estas panelas estão todas tortas, não servem mais”. Dona Rosinda estava agachada em frente ao armário da cozinha se livrando de todas as panelas de que cuidou carinhosamente por toda vida. “Mãe, como a senhora vai cozinhar se jogar todas as suas panelas no lixo?”. Dona Rosinda, sem parar o que estava fazendo, simplesmente disse: “E quem precisa comer aqui, meu filho? Cada um pode caçar sua própria comida. O homem tem garras e dentes pra quê, me diz? Além disso, eu acabei de concluir que todos podemos ser vegetarianos. Comer só frutas, verduras e legumes crus. Comer carne é crime, você já pensou?”. Alberto não conseguiu dizer uma palavra. Até porque sua mãe continuou a verborragia, “É crime, meu filho. São animais assa-ssi-na-dos. Morte matada. E eu não vou mais compactuar com isso. Vá. Vá chamar seu pai que ele vai se livrar dessas panelas para mim”. Alberto, achando que o mundo tinha enlouquecido, voltou para a sala e lá estava seu Ananias fazendo uma dança estranha de frente para a TV. “Albertinho, meu filho, descobri que minha dança sensual enlouquece as mulheres. Tá vendo ela ali? Não para de rir. Tá no papo”. Alberto foi conferir quem era a mulher na televisão que estaria louquinha pelo seu pai. Era a Xuxa, em uma reprise de um programa bizarro qualquer dos anos 80. Ela tomava um sorvete e olhava rindo para a câmera. “Veja, filho, veja como ela me quer”. E seu Ananias rebolava de frente para a tela, deixando o rapaz vermelho de vergonha. Alberto subiu as escadas, de dois em dois degraus. Precisava de alguém para compartilhar aquele inferno todo. O mundo enlouqueceu e ele era o único normal? Entrou no quarto de Alípio, o irmão mais novo. “Cara, tem uma coisa surreal rolando lá embaixo e você precisa...”. Não terminou a frase. Alípio estava pelado em frente a janela, balançando seus pertences para quem quisesse ver. “Caralho, sai daí, pelo amor de Deus. Até você?”. Alberto olhou para a rua e uma pequena multidão se aglomerava em frente à sua casa. “Tira! Tira! Tira!”, gritavam os passantes,
segunda-feira, janeiro 05, 2009
Suco de bobagens
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7 comentários:
Muito bom, baby! Dava um ótimo curta. Estou rindo até agora.
Que 2009 nos traga ainda mais inspiração para escrever.
Bjs,
Mary Poppins
Muito bom miss duffles... mais uma vez. bjo, andréia.
fino, dona barbara, muito fino :)
ahahahahahahahahha sensacional!
"chaumé"
Escutei seu texto pelo telefone, na versão francesa do Flo. Ele adorou, achou "du lourd".
Então corri pro Blog pra conferir...
muito bom! très drôle!
Muito bom! A melhor imagem pra mim é a coroa feliz no mar de panelas.
Hahahaha, fico imaginando isso acontecendo lá na casa dos meus pais...muito legal.
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