sexta-feira, agosto 08, 2008

Como substituir amores

Logo no primeiro dia em que chegou, Lolinha conquistou o coração de Aquiles. Loura, seios fartos, boca convidativa, cintura fina. E não tinha somente estes atributos de mulher fútil. Aquiles via nela duas das qualidades que mais admirava nas fêmeas: não tagarelava e sabia ouvir o companheiro. Como todo relacionamento, o início foi de muita paixão. Noites e noites rolando na cama com Lolinha, Aquiles não queria saber de mais nada. Chegou a fingir uma gripe para faltar o trabalho e garantir alguns dias de luxúria com sua loura. Seu programa preferido era tomar banho de banheira com ela: adorava como o corpo de Lolinha ficava escorregadio na água, um convite para momentos inigualáveis a dois.

Também como todo relacionamento que dá certo, da paixão voluptuosa veio o amor incondicional. Aquiles e Lolinha continuavam enroscados dia e noite, mas agora os encontros tinham pitadas de romantismo rasgado. Aquiles levava flores, preparava jantares a dois em seu pequeno apartamento. Cada vez mais apaixonado, ele se declarava de forma emocionada, fitando os olhos sempre abertos dela, desejando ainda mais a boca convidativa da moça.

Como alguns relacionamentos que dão certo e depois se perdem, o amor foi corrompido por uma dose exagerada de ciúme. Tão grande era o sentimento de Aquiles por Lolinha, que ele se transformou num obsessivo de marca maior. Com medo de perder sua mulher para os amigos, Aquiles nunca a apresentou a ninguém. Os dois passavam a maior parte do tempo juntos e sozinhos, sem interferências externas. Os amigos cochichavam a respeito dele às escondidas. Ninguém acreditava que Aquiles tinha mesmo a tal mulher incrível da qual ele tanto se gabava. Afinal, nenhum deles havia visto Lolinha. Chegaram a fazer um bolão no escritório, onde as más línguas apostavam que “ela”, na verdade, era “ele”.

Aquiles não se importava com o que diziam, pensava só em Lolinha, em ficar com ela, em aproveitar seu silêncio em paz. Sim, silêncio, pois, como já foi dito, ela não tagarelava e estava sempre atenta ao que dizia o namorado. Mas a verdade é que Lolinha não falava. Nada, nadinha. Um júbilo para os ouvidos de Aquiles, falador profissional que sempre se irritou com mulheres verborrágicas.

Só que, como a maior parte dos relacionamentos, a rotina chegou, abriu a porta e sentou no sofá. Após tanto tempo isolados do mundo, Aquiles e Lolinha não tinham mais o que conversar. Ou melhor, ele é que não tinha o que dizer, já que ela não emitia sons mesmo. Aquele silêncio todo de repente virou um suplício. Aquiles começou a desejar que ela falasse. A boca outrora convidativa de Lolinha se transformou num buraco negro desinteressante. Num dia de angústia incontrolável, empurrou a mulher contra a quina da parede. E então foi o fim.

Num estouro que se ouviu até nos andares de baixo, Lolinha desapareceu. Esparramados no chão, pedaços de plástico que um dia formaram o corpo da boneca inflável de Aquiles. Desesperado, ele agarrou-se aos restos mortais de sua amada, jurando nunca mais comprar outra.

Uma semana depois, o correio entregou um pacote no apartamento de Aquiles. Era Silvinha, uma morena de arrasar quarteirão.

12 comentários:

Anônimo disse...

Babi, três coisas:
01. Adorei esse conto e me identifiquei com ele.
02. Seus textos sempre me emcionam de verdade.
03. O que você está esperando pra batakhar uma carreira de escritora?

Continue emocionando. Você vai longe!

Unknown disse...

Dahora, tem a boneca na versão oriental? Núbias me agradam também!

Raphael Perret disse...

Nossa, que texto! Muito bom. Começa gostoso, vai ficando sombrio e termina surpreendente. Parabéns, B. Beijos!

Anônimo disse...

machista assassino esse aquiles! típico comportamento da espécie: come, come e joga fora. e que tola essa lolinha! submissa até a morte e descartável, como são os amores contemporâneos. ótimo texto baby! =)

Unknown disse...

Surpreendente, Bárbara.
O pior é que tá cheio de Lolinhas reais por aí...
bjs

Unknown disse...

arrasou lolinha, quer dizer, babizinha! adoro teus textos, eles têm a capacidade de me surpreender, mesmo te conhecendo tão bem.

Anônimo disse...

arrebentou, babi!

gostei muito! como escreveu alguém acima, surpreendente!

continue a escrever porque todos saem ganhando!

beijo!

Mariana Valle disse...

baby,

cada vez melhor. por favor não pare de escrever. vc tbm tem me surpreendido a cada novo texto. Leio tudo vorazmente!

Bjs,
Poppins

Paula disse...

adorei!
vamos fazer um curta?

beijos!

Anônimo disse...

Vc é mto perspicaz menina!
Vá logo encadernar tudo isso e me informar a editora!
Beijo!

Anônimo disse...

já existe um curta com essa história.

Francisco disse...

realmente muito bom.

como alguns já disseram: surpreendente.

deixou-me curioso para ver outros textos. vou vasculhar seu arquivo.

_o/