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quarta-feira, novembro 11, 2009

Mamões amassados

Com dificuldade, abriu a porta de casa e colocou a caixa de mamões amassados sobre a pia da cozinha. Olhou aquelas frutas feias e se perguntou por que as havia comprado.

Naquele dia, Lia havia deixado de ir à feira cedo porque deveria lavar a louça. Enquanto secava os pratos, lembrou-se da poeira sob o sofá e do dinheiro que deveria depositar no banco. Tirou o pó, foi ao banco e só na volta conseguiu passar na feira. Tudo o que conseguiu foram os mamões amassados.

O calor que fazia naquele meio-dia de segunda deve tê-la deixado de miolo mole. Lia começou a achar ridículas todas as necessidades básicas do homem, principalmente esta por comida. Viu os últimos fregueses caçando a xepa e imaginou-os animalescos, comendo os mamões amassados, as sementes pretas escorrendo no canto da boca. Tão simplório este ato de comer, para depois eliminar, e depois comer de novo. No futuro, ninguém se importaria com os hábitos daquelas criaturas, com o que faziam ou deixavam de fazer.

Ela também, Lia, fazia parte deste ciclo e seria esquecida. Quem vai saber que ela deixou de ir à feira para lavar a louça, e por isso teve de se contentar com mamões amassados? Achou suas necessidades mundanas muito pequenas para continuá-las repetindo. Só pensava no futuro e na sua ausência dele. Não haveria registro de sua estúpida rotina. Lia seria mais uma foto embolorada, perdida em álbuns de família, com a expressão de uma pessoa do século passado, mórbida como num filme de fantasmas.

domingo, dezembro 07, 2008

Hoje eu atirei numa pessoa

Hoje eu atirei numa pessoa

Estava úmido, eu lembro, estava frio

Ele era asqueroso e ameaçador

Não lembro de seu rosto nem da voz

Somente do impacto das balas saindo do meu revólver

Foram quatro, talvez cinco

E dos buracos de sangue escorreram filetes

Acho que o matei

Mas sigo sem saber por que atirei

Ele ameaçava alguém que eu gostava

Não lembro de seu rosto nem da voz

Somente que eu amava e por esse amor matava

De súbito, acordei.