Mostrando postagens com marcador primeira pessoa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador primeira pessoa. Mostrar todas as postagens

terça-feira, setembro 02, 2008

Apocalípticos e integrados

Hoje, meu penúltimo dia na Cidade Maravilhosa, está um sol daqueles. E eu estou tranqüila e sem ondas. Placidamente acordei, tomei meu café, li o jornal. Positiva e otimista, mas ainda em crise criativa. Portanto, abaixo segue um fragmento apocalíptico de semanas atrás, que não corresponde ao momento-hoje.

“As más notícias não param de chegar. Alguém que ficou doente de repente, uma jovem grávida que perdeu o bebê sem motivo aparente, uma tia que descobriu um mal incurável, uma criança que parou de enxergar... Se o corpo humano é realmente uma máquina perfeita, então há algo de muito errado acontecendo. São muitas falhas para o que sempre fora chamado de “o melhor computador do mundo”.

Culpa da vida, não ela em si, natural e sagrada, simples como os quatro elementos. E sim no que o homem a transformou, vida-nêura, vida-estresse, vida-paranóia, vida-fútil.

A máquina não aguenta tanta pressão, é lógico que falha, e cada vez em maior escala, com doenças mais graves e inimagináveis.

O corpo não sustenta a realidade de hoje, e pede socorro, impedindo que crianças venham ao mundo e se transformem em novas vítimas. Alguma coisa está fora da ordem, não só mundial ou universal, mas individual.

Precisamos recomeçar, repensar, apertar o reset e formatar o computador. Senão os vírus vão tomar conta de tudo, transformando-nos na raça dos mutilados pelo nosso próprio corpo, que se autoboicota em resposta ao caos.”

quinta-feira, maio 15, 2008

Pequenezas

Dentro da bolsa, o caos. A chave de casa que enrosca no crachá, que prende na pinça, que agarra o elástico de cabelo, que se embola no porta-moedas. É sempre assim: toda vez que vai abrir a porta, ela pega a chave e vem tudo junto. Xinga deus e o mundo, jura que vai separar cada coisa em bolsinhos. Mas, no dia seguinte, é a mesma coisa.

Pior é quando está entrando no ônibus. Seu celular cisma em tocar, e ela, afobada, não sabe se atende o aparelho, se paga a passagem, se segura as várias bolsas que sempre carrega ou se segura a si mesma para não cair, já que os motoristas cariocas estão sempre prontos para tirar o pai da forca.

Sua vida é assim mesmo. Enrolada, complicada, um prato cheio para a hiena Hardy entoar seu famoso bordão. Oh, vida, oh, azar, ela mesma repete, às vezes, ao tropeçar nos buracos das calçadas. Suas pernas são pintadas de manchas roxas, resultado de pancadas dentro do ônibus – os motoristas, sempre eles – ou de manobras radicais que faz para entrar nas kombis. Sempre jura que nunca mais vai entrar nestas latas velhas de sardinha humana. Mas, no dia seguinte, é a mesma coisa. Acaba enrolando-se também com outros passageiros, naquele espreme-espreme dos infernos.

Certo dia, sentada na janela, foi obrigada a dar lugar para uma senhorinha, que tentava subir na kombi com um tabuleiro. “Segura aqui, minha filha. É lasanha. Eu que fiz”. Segurou o tabuleiro quente enquanto a velhinha se sentava no melhor lugar, fazendo-a colar coxas com o motorista (ela odeia colar coxas com desconhecidos). E seguiram assim até ela devolver a lasanha, já que a velhinha folgada queria mesmo é ficar de mãos livres vendo a vista lá fora. Outro dia, teve que ouvir uma ladainha bizarra de mais uma senhora, que contava as aventuras amargas que teve com a patroa. “Falei pra ela: só de raiva vou botar seu nome na minha filha, pra eu nunca mais esquecer da senhora”. E assim a pobre criança foi batizada de Elza, o nome da maior inimiga da mãe.

Enrolada dentro da bolsa, achincalhada nos ônibus e espremida em kombis, ela quer se libertar. As pequenezas da vida a afrontam, atrapalhando o que chama de suas “causas nobres”.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Pequena Miss Sunshine


Quando está tudo escuro, ela se lembra da luz dele. E logo seu rosto se ilumina.
Dias e posts ensolarados estão por vir. Os dois têm certeza disso.
"Let the sunshine, let the sunshine in..."

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Renato Russo sabe

“E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.”

Ele nem gosta de Legião. Mas ela gosta, fato assumido em um bate-papo virtual, recentemente. No entanto, ela sabe que ele sabe que, nesse caso, Renato Russo sabe. Não tem como negar, “Índios” têm tudo a ver com o agora.

Ela acorda sentindo falta dele (o “dele” dela, que fique bem claro). Dos filmes que eles não viram juntos, das músicas que não os embalaram, dos projetos que eles ainda nem fizeram. Mas vão fazer. Vão mesmo? É isso o que ela mais quer, o rumo que ela quer seguir, rumo este que estava em ziguezague e de repente se transformou em reta. Para o infinito, de infinitas possibilidades, de sensações ainda não-descobertas, de peças que se encaixam e talvez não queiram se desencaixar tão cedo.

E ela se pergunta, como pode sentir saudade do que não aconteceu, do que está apenas iminente, latente, pronto para explodir, mas ainda não...? Renato Russo sabe, e deve estar mandando explicações para ela, em sonho. Porque hoje mesmo, assim, de supetão, ela pensou numa resposta: é a sensação do atemporal, das lembranças que não são do passado ou do futuro, que pairam na estranha atmosfera do imaginário. Não importa se já aconteceram ou vão acontecer. Elas já existem, estas lembranças. E ninguém poderá tirar isso dela, talvez nem dele.

Um mundo só dos dois, universo paralelo em que tudo é poeira de estrelas. Doce e amargo. Mas ainda assim, concreto como pedra (duvido que o Renato saiba dessa. Mas ele sabe. O “ele” dela, que fique bem claro).

sexta-feira, novembro 03, 2006

Criatividade em dose tripla

Criatividade é uma palavra que me persegue. Dizem que geminianos são criativos. Canhotos são criativos. Recentemente descobri que pessoas com sangue tipo B também são criativas. Meus Deus, eu tenho a obrigação tripla de ser criativa. Está nas estrelas, nas mãos e no sangue! Para provar que faço jus a esta classificação, vou tirar da cartola uma história. Agora. Recém-saída do forno. Vamos lá. É a história de Sandra. Ela chega em casa depois de um dia complicado no trabalho. Brigou com o chefe. Tropeçou na rua. Levou cantada do peão desdentado. Pisou no cocô do cachorro. Tudo o que ela queria era um banho quente e um colinho de Sérgio. Sérgio, não, tem "s" também. Carlos. Tudo o que ela esperava era um colinho e um beijo de Carlos. Abre a porta de casa, dirige-se ao quarto. A porta está entreaberta, está tocando Portishead. Ela adora, provavelmente Carlos colocou para recebê-la. Sandra abre a porta, devagar. Em sua cama king size, digo, queen size, vê a forma de dois corpos sob o lençol. Apenas os quatro pés para fora. Quatro pés roçando entre si, quatro pés horrorosos e mal-feitos. Um deles tinha unha encravada. Malditos, que pés são esses? Carlos, desgraçado, o que está fazendo na nossa cama?, ela grita. Carlos salta, os olhos na testa. Sandra tem um choque ao ver a pessoa com quem o marido estava deitado. Carlos, eu não acredito... Você... Com... Sandra não consegue terminar a frase. Carlos corre para Sandra, tenta beijá-la. Ela tem ânsia de vômito, ela parece que vai... Ela vomita. Num surto de autoflagelação, Carlos se ajoelha e bebe o líquido jorrado pela amada. Pede perdão, agarra-se às suas pernas. Sandra se desvencilha daquele ser rastejante e asqueroso, dirige-se à pessoa cujo pé tem a unha encravada. Dá-lhe um tapa e diz: Eu não acredito que você fez isso comigo, mãe. Sai, deixando a mãe nua com o rosto vermelho, e Carlos ajoelhado no vômito, em prantos.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Notícias do submundo

Que existem várias realidades diferentes da nossa, isso é óbvio. Mas é engraçado se deparar com elas, assim, de supetão. Estava eu indo para o trabalho quando vejo aquele tradicional burburinho na lateral da banca de jornal. Eu, que só leio O Globo, confesso que de vez em quando paro junto com o povão pra ver o que tá rolando no submundo. E gente... Vocês já viram as manchetes de hoje? A chapa está quentíssima! A saber:

Notícia 1: Filha de Gretchen declara: "Eu gosto mesmo é de mulher!". A notícia, estampada na capa do Meia Hora (ou do Expresso, tanto faz), vem com uma foto da dita cuja sendo sodomizada pelo amor de sua vida, a sortuda Patrícia. E para o leitor não perder nenhuma linha desta história interessantíssima, o jornal anuncia que amanhã tem mais: Tammy vai contar o que ela faz para ter prazer com a parceira. Opa! Não posso deixar de perder.

Notícia 2: Eliana esquece o microfone ligado e deixa escapar detalhes do que mais gosta de fazer na cama. Também na capa do Meia Hora (ou do Expresso, tanto faz). Outra informação super-útil na minha vida. Imagina Eliana na hora H cantando "dedos médios, dedos médios, onde estão?". Como diria um amigo meu... Cruzes! +++++++

Notícia 3: Ator da Globo é preso drogado e precisa ser amarrado na maca! Na capa do Meia Hora (ou do Expresso, tanto faz), a foto do pobre garoto na situação citada na manchete. Nesse caso eu fiquei com pena... A foto me chocou.

Depois de ler tais notícias, e perceber como elas atraíam o povão na rua (inclusive eu), tive aqueles minutos de consciência da realidade, pelo menos da que é totalmente diferente da minha. Primeiro, o que me veio à cabeça foi: "Meus Deus, o que está acontecendo com o mundo???". Depois desisti. Não pensei em questões políticas, nem naquele clichê "ah, isso acontece porque a educação no Brasil é uma merda". Nada disso. Simplesmente achei graça. E esse post, que começou com clima de TV Fama, não vai terminar Canal Futura. Não tem moral da história. Aliás, acho isso um saco.

PS: Não tenho problemas com lésbicas, nem com as loucuras que os outros fazem na cama e muito menos com as doideiras alheias! Só acho engraçado isso ser capa de jornal...

quarta-feira, setembro 27, 2006

Refresh da vida

Arrumar o quarto significa muito mais do que ajeitar algumas coisas e jogar outras fora. É quase um "refresh" da vida, é quando você se livra de antigos fantasmas, se desapega de coisas que sempre foram desnecessárias, mas só agora se deu conta. Meu quarto é rearrumado de tempos em tempos - segundo minha mãe, esta arrumação deveria ser mais freqüente. Talvez ela esteja certa. Talvez se eu arrumasse o quarto mais vezes, arrumaria também meus pensamentos. Se o lugar onde você dorme é um caos, provavelmente sua mente é um caos.

Outro dia parei para pensar na questão do desapego. Quando era mais nova, não queria jogar fora as provas do colégio. Ficava triste quando minha mãe dizia que eu deveria escolher só algumas para a posteridade, porque o resto iria para o lixo. Quase chorava na hora de selecionar as felizardas. Cada uma significava algo para mim: uma professora de quem eu gostava, uma questão que levou parabéns. Mas foi só o tempo passar para tudo isso sofrer do mal (ou bem) do desapego. Ao entrar na faculdade, queria jogar toda a papelada do colégio fora. Aí quem ficou com pena foi minha mãe. Ela não conseguiu se desapegar da minha infância.

Agora, neste momento, meu quarto está lá. Pseudoarrumado, com quilos de coisas escondidas nos armários. Coisas que já foram muito importantes um dia, mas que hoje só ocupam espaço. Já me libertei de muitas delas, falta só tempo e paciência para jogar tudo fora. São trabalhos da faculdade, cartas de amigos que não existem mais. Não, não vou jogar fora as cartas. Pra ser sincera, sempre me emociono quando as leio. Além disso, daqui a 10, 20 anos, quando eu quiser arrumar meu armário, não vou encontrar as cartas dos amigos de hoje. Elas estão no computador.

Aliás... Preciso organizar meu HD.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Com neurose! (em ritmo de funk)

O maior pesadelo da minha vida é o tempo. Ele voa, faz ventar os planos, leva-os pra longe, num futuro com o qual não consigo mais sonhar. Como disse Monteiro Lobato na voz boneco-humana de Emília, você pisca e nasce, pisca e cresce, pisca e tem filhos, pisca e fica velho, até o dia em que pisca pela última vez. Dá vontade de manter os olhos abertos, lacrimejando de tanto arder, mas se isso impedir o pisca-pisca, tá valendo.

A rapidez da vida como um todo só perde mesmo para a fugacidade das 24 horas que compõem um dia. Exige-se tanto, perde-se tanto tempo com banalidades. Como uma pessoa consegue, em um dia, arranjar tempo para cuidar da saúde, alimentar-se, ficar bem-informada, ler aquele livro maravilhoso, manter a forma, estar sempre linda, trabalhar, ter momentos de lazer, administrar a grana, dar atenção à família, bater um papo com os amigos, procurar ver e ser vista e ainda fazer algo pela humanidade? Eu não consigo, estou sempre atrasada. Estou sempre correndo, perdendo os ônibus, dando desculpas esfarrapadas, maltratanto meu estômago de tanto estresse e agonia.

E a genialidade, onde fica? Não vai dizer que você nunca pensou em deixar uma obra sua para a posteridade? Eu já. Vou morrer frustrada se minha existência for só uma enxurrada de pisca-piscas inúteis.