Gertrudes nunca foi muito de se conformar com as coisas. Desde pequena, não queria comer o que lhe mandavam, implicava com as crianças que teimavam em lhe apertar e olhava com desprezo para as colegas acomodadas. Não dava bola para os machos que apareciam ali de vez em quando e fazia questão de pregar, em noites de cantoria coletiva, que o mundo lá fora era bem melhor que os apertados cômodos onde moravam.
O sonho de Gertrudes era entrar no caminhão, que uma vez na semana aportava por ali, e seguir seu rumo. Invejava as colegas escolhidas para irem embora. “Um dia, chega a minha vez”, pensava. Terezinha e Berlota, as únicas que suportavam seu mau humor panfletário, diziam que Gertrudes era louca de querer entrar no caminhão. “Ninguém nunca voltou de lá”, afirmavam. “E quem ia querer voltar para um chiqueiro desses?”, retrucava Gertrudes.
Até que o grande dia chegou. Terezinha e Berlota também foram convocadas, muito a contragosto. Fim de ano sempre chamavam mais gente do que o normal. Gertrudes era só alegria, pulava aqui e ali, despedindo-se de todas. Transformou-se na mais simpática do lugar, pelo menos naquele dia. Chegou a trocar olhares com uns machos que zanzavam por ali, coisa que nunca havia feito antes.
Despedidas feitas, promessas de “Até breve” e “Um dia você vai também”, chegou a hora de subir no caminhão. Desta vez, foram centenas. Uma a uma, todas foram se acomodando, ansiosas e faladeiras. O carro deu a partida e lá foram elas, pela estrada. Passaram-se horas, e nada de chegarem ao misterioso destino. Anoiteceu, amanheceu novamente. Gertrudes estava angustiada, o sacrifício era maior do que pensava. Estavam apertadas, esfomeadas. Algumas puxavam briga com as outras. O calor era insuportável, o barulho, ensurdecedor.
Gertrudes cansou. Esperou a vida toda para sair de casa, e agora estava ali passando necessidades. Olhou para Terezinha e Berlota, e disse: “Vou fugir”. As duas olharam-na espantadas. “Você não teria coragem...”. Mas Gertrudes teve. Com o máximo de força que conseguiu reunir, quebrou parte da grade. Colocou o pescoço para fora e sentiu o ventinho de liberdade batendo no rosto. Com cuidado, foi colocando o corpinho para fora. Saltou para a rua.
Não demorou muito para que fosse pega por um transeunte. “Isso aqui garante o meu Natal esse ano”, disse, olhando para ela. Do caminhão, Terezinha e Berlota viram Gertrudes ser levada pelo estranho. “A gente podia ter ido com ela”, pensaram, mas sem coragem de espichar a cabeça para fora do buraco, com medo de sentir o ventinho perigoso.
O sonho de Gertrudes era entrar no caminhão, que uma vez na semana aportava por ali, e seguir seu rumo. Invejava as colegas escolhidas para irem embora. “Um dia, chega a minha vez”, pensava. Terezinha e Berlota, as únicas que suportavam seu mau humor panfletário, diziam que Gertrudes era louca de querer entrar no caminhão. “Ninguém nunca voltou de lá”, afirmavam. “E quem ia querer voltar para um chiqueiro desses?”, retrucava Gertrudes.
Até que o grande dia chegou. Terezinha e Berlota também foram convocadas, muito a contragosto. Fim de ano sempre chamavam mais gente do que o normal. Gertrudes era só alegria, pulava aqui e ali, despedindo-se de todas. Transformou-se na mais simpática do lugar, pelo menos naquele dia. Chegou a trocar olhares com uns machos que zanzavam por ali, coisa que nunca havia feito antes.
Despedidas feitas, promessas de “Até breve” e “Um dia você vai também”, chegou a hora de subir no caminhão. Desta vez, foram centenas. Uma a uma, todas foram se acomodando, ansiosas e faladeiras. O carro deu a partida e lá foram elas, pela estrada. Passaram-se horas, e nada de chegarem ao misterioso destino. Anoiteceu, amanheceu novamente. Gertrudes estava angustiada, o sacrifício era maior do que pensava. Estavam apertadas, esfomeadas. Algumas puxavam briga com as outras. O calor era insuportável, o barulho, ensurdecedor.
Gertrudes cansou. Esperou a vida toda para sair de casa, e agora estava ali passando necessidades. Olhou para Terezinha e Berlota, e disse: “Vou fugir”. As duas olharam-na espantadas. “Você não teria coragem...”. Mas Gertrudes teve. Com o máximo de força que conseguiu reunir, quebrou parte da grade. Colocou o pescoço para fora e sentiu o ventinho de liberdade batendo no rosto. Com cuidado, foi colocando o corpinho para fora. Saltou para a rua.
Não demorou muito para que fosse pega por um transeunte. “Isso aqui garante o meu Natal esse ano”, disse, olhando para ela. Do caminhão, Terezinha e Berlota viram Gertrudes ser levada pelo estranho. “A gente podia ter ido com ela”, pensaram, mas sem coragem de espichar a cabeça para fora do buraco, com medo de sentir o ventinho perigoso.