sexta-feira, agosto 29, 2008

Já está à venda!


Queridos amigos e leitores, o livro "Não abra" já está disponível para venda na Editora Multifoco, que fica na Avenida Mem de Sá, 126, Lapa.

Para quem mora fora do Rio ou tem medo de se perder entre copos do bairro boêmio, clique aqui!

Quero agradecer a presença de todos no lançamento. Foi uma noite linda!

Flavs, obrigada pelo post!
Fred, valeu pela força!

quarta-feira, agosto 20, 2008

"Não clique" vai virar "Não abra"!


E todos vocês estão convidados para o lançamento.

segunda-feira, agosto 18, 2008

E eis que algo surge do limbo virtual...

Em crise criativa pré-lançamento de livro, resolvi fazer uma retrospectiva de alguns posts do passado, que acabam ficando esquecidos no limbo virtual. Quem não leu, pode aproveitar para ler e comentar. Quem já leu: ficarei feliz com um bis!

A morte precoce de um amigo que lhe deixou um belo quadro como herança
We’ll always have Paris

Visita tocante e surpreendente à favela Cidade de Deus
Na CDD

Um stripper carente que só queria tomar sorvete
Gente normal

Poder sobe à cabeça de garota pobre que voa na primeira classe do avião
Vivian

Elucubrações sobre a vida e o tempo
Com neurose

Gertrudes sonha com uma vida melhor. Mas acaba na panela.
Fuga das galinhas

Guarda do Vaticano seduz turista
Lições do Vaticano

Declaração de amor rasgada
Renato Russo sabe

Rapaz se despede da vida doando seus livros
Os livros de Ivo

...

Pisca aqui.
Deixa os cílios roçarem no meu rosto.
Sua respiração me tira o ar.
Agridoce.
Pescoço no nariz. Boca no ouvido.
Pisca aqui.
Que o amor é feito de cócegas.
E de olhos que abrem e fecham.
Doces.

*Para o meu amor

quarta-feira, agosto 13, 2008

A favorita

Como pode, ao mesmo tempo, ser sol e lua, yin e yang, sal e açúcar?
Como pode, no mesmo corpo, haver santa e puta, explosão e contenção, frisson e gelidez?
Ela consegue ser escrachada num momento, para no minuto seguinte ruborizar.
Pode dizer as coisas mais sacanas no ouvido de quem deseja, mas quase morre ao ver cenas libidinosas ao lado de parentes.
Ela incorpora, no mesmo dia, Madre Teresa de Calcutá e Salomé.
Acende vela para Deus e outra para o Diabo, e muitas vezes confunde quem é quem.
São várias caras, e nenhuma é falsa. Facetas diferentes de uma pessoa complexa, completa, que emana luzes de cores primárias, que em segundos viram secundárias. Depende do dia, da hora, da companhia, do lugar.
Mas, no fundo, é sempre ela. Sempre verdadeira, saibam todos. Se toparem com uma, e depois com a outra, podem cumprimentar. Ela vai responder com afagos ou mordidas. Depende do dia.

sexta-feira, agosto 08, 2008

Como substituir amores

Logo no primeiro dia em que chegou, Lolinha conquistou o coração de Aquiles. Loura, seios fartos, boca convidativa, cintura fina. E não tinha somente estes atributos de mulher fútil. Aquiles via nela duas das qualidades que mais admirava nas fêmeas: não tagarelava e sabia ouvir o companheiro. Como todo relacionamento, o início foi de muita paixão. Noites e noites rolando na cama com Lolinha, Aquiles não queria saber de mais nada. Chegou a fingir uma gripe para faltar o trabalho e garantir alguns dias de luxúria com sua loura. Seu programa preferido era tomar banho de banheira com ela: adorava como o corpo de Lolinha ficava escorregadio na água, um convite para momentos inigualáveis a dois.

Também como todo relacionamento que dá certo, da paixão voluptuosa veio o amor incondicional. Aquiles e Lolinha continuavam enroscados dia e noite, mas agora os encontros tinham pitadas de romantismo rasgado. Aquiles levava flores, preparava jantares a dois em seu pequeno apartamento. Cada vez mais apaixonado, ele se declarava de forma emocionada, fitando os olhos sempre abertos dela, desejando ainda mais a boca convidativa da moça.

Como alguns relacionamentos que dão certo e depois se perdem, o amor foi corrompido por uma dose exagerada de ciúme. Tão grande era o sentimento de Aquiles por Lolinha, que ele se transformou num obsessivo de marca maior. Com medo de perder sua mulher para os amigos, Aquiles nunca a apresentou a ninguém. Os dois passavam a maior parte do tempo juntos e sozinhos, sem interferências externas. Os amigos cochichavam a respeito dele às escondidas. Ninguém acreditava que Aquiles tinha mesmo a tal mulher incrível da qual ele tanto se gabava. Afinal, nenhum deles havia visto Lolinha. Chegaram a fazer um bolão no escritório, onde as más línguas apostavam que “ela”, na verdade, era “ele”.

Aquiles não se importava com o que diziam, pensava só em Lolinha, em ficar com ela, em aproveitar seu silêncio em paz. Sim, silêncio, pois, como já foi dito, ela não tagarelava e estava sempre atenta ao que dizia o namorado. Mas a verdade é que Lolinha não falava. Nada, nadinha. Um júbilo para os ouvidos de Aquiles, falador profissional que sempre se irritou com mulheres verborrágicas.

Só que, como a maior parte dos relacionamentos, a rotina chegou, abriu a porta e sentou no sofá. Após tanto tempo isolados do mundo, Aquiles e Lolinha não tinham mais o que conversar. Ou melhor, ele é que não tinha o que dizer, já que ela não emitia sons mesmo. Aquele silêncio todo de repente virou um suplício. Aquiles começou a desejar que ela falasse. A boca outrora convidativa de Lolinha se transformou num buraco negro desinteressante. Num dia de angústia incontrolável, empurrou a mulher contra a quina da parede. E então foi o fim.

Num estouro que se ouviu até nos andares de baixo, Lolinha desapareceu. Esparramados no chão, pedaços de plástico que um dia formaram o corpo da boneca inflável de Aquiles. Desesperado, ele agarrou-se aos restos mortais de sua amada, jurando nunca mais comprar outra.

Uma semana depois, o correio entregou um pacote no apartamento de Aquiles. Era Silvinha, uma morena de arrasar quarteirão.

terça-feira, agosto 05, 2008

Os olhos de Laura

Encostou o nariz naqueles cabelos macios e ruivos e teve a sensação da eternidade. “Quero morar aqui”, pensou, enroscando-se nos compridos fios dela. Os cabelos de Laura eram tão tenros quanto as carnes de suas coxas. Também rosas, também eternas. “Acho que ela nunca vai envelhecer”. Em seus devaneios de amor, pensava em Laura como um ser atemporal, que tem o cheiro do universo. Seus gestos também não faziam parte de tempo algum. Olhava para a ruiva e a via flutuar. Sentia-se imensamente inferior àquela mulher divinal, mas quando tocava naqueles cabelos macios era como tivesse respostas para um não sei o quê. Laura era o sim quando pensava no não, era a tranqüilidade quando se perdia em ânsias. A sabedoria que vinha das madeixas ruivas e perfumadas, da carne macia e sã, dos olhos de metáfora e mistério. Nunca entendia os olhos de Laura à primeira vista. Laura era mulher para uma segunda vista, ininterrupta.